Definir o papel de uma pessoa na sociedade por suas características genéticas seria visto pela maioria dos colegas contemporâneos como um ponto de vista ilógico, senão imoral. Por exemplo, soaria no mínimo absurdo dizer que todos os negros deveriam se tornar corredores porque tem uma predisposição genética a serem melhores nisso do que brancos e japoneses. Similarmente, nenhuma pessoa sensata defenderia que maoris deveriam ser jogadores de rugby ou japoneses, engenheiros.
Parece óbvio que esses grupos de pessoas não são homogêneos. Que eles são compostos por uma multidão de indivíduos que não tem nada em comum além de um aspecto genético, seja a concentração de melanina, estrutura corporal ou formato dos olhos. E, mais importante, parece totalmente ilógico e preconceituoso julgar qualquer desses indivíduos pelos atos ou preferências de alguns, ou mesmo da maioria dos outros indivíduos no mesmo grupo.
Continuando com o senso comum, é sensato assumir que o colega contemporâneo se sentiria enojado, indignado ou pelo menos desconfortável em certa medida em imaginar um mundo onde fosse dito repetidamente a crianças negras, especialmente por seus pais, que para ser um negro de verdade, elas teriam que se tornar corredoras. Que não correr é uma coisa de não-negros somente, que correr as faria moralmente melhores. Seria ainda pior se toda pessoa negra que discordasse fosse constantemente repreendida, desprezada ou, em casos extremos, agredida fisicamente por ser um “não-corredor”. Os mesmos sentimentos se sustentariam para uma sociedade onde maoris fossem compelidos a se tornarem jogadores de rugby, ou japoneses a serem engenheiros.
Em nenhum desses cenários um movimento pelo fim de tais papéis compulsórios pareceria fora de lugar. Claro, os mais conservadores nessas sociedades o viriam com maus olhos, mas qualquer um comprometido com a lógica e a liberdade certamente se juntaria a ele. Afinal, quem é qualquer um para determinar quem alguém deve ser ou o que alguém deve fazer de sua vida por causa de seus traços genéticos?
Dado que tudo acima é senso comum, deve-se perguntar por que a sociedade contemporânea não parece precisar do feminismo. Por alguma razão, um traço genético, o sexo, se mantém acima e além da crítica mencionada. As mulheres são compelidas não a um, mas a muitos papéis sociais, unicamente por serem mulheres. Desde o primeiro dia de vida, as crianças são ensinadas sobre “coisas de menino” e “coisas de menina”. E ainda assim nenhuma outra razão é dada para tal ato além de “bem, você nasceu assim”.
"Mulheres" não é só um grupo não-homogêneo de uma multidão de indivíduos que não compartilham nada além de uma única característica genética? Não sabemos que cada um desses indivíduos são únicos em suas preferências e aspirações? Quem é qualquer um para determinar quem uma mulher é e o que ela deve fazer de sua vida baseado em seus genes, o mesmo sendo válido para homens?
Ainda assim, existe um senso comum que um movimento que se opõem a essa compulsão por papéis definidos pelo sexo, a saber, o feminismo, não é apenas controverso entre conservadores (como seria esperado de qualquer movimento assim), mas é também considerado ilógico, inútil, cruel e por alguma razão anti-libertário. Minha sincera questão a todas as pessoas que pensam assim é: o sexismo está realmente enraizado tão profundamente em seus pensamentos?
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