Cultura e Anarquia
por Roderick Long
Eu apreciei seu artigo descrevendo sua evolução política. Posso eu mesmo confessar um caminho similar, tendo sido um americano patriota que defendi as guerras do Vietnã e Iraque I. Rand fazia perfeito sentido para mim na época. Contudo, eu também comecei a notar as contradições dentro da filosofia de Rand e comecei a me movimentar na direção "libertária". Eu vim a acreditar que a filosofia de Rand não é, em essência, nem um pouco diferente do que Hobbes ofereceu aos apologistas do mercantilismo do Governo Grande: os homens não têm qualquer outra conexão além de apetites comuns, então o governo deve forçosamente uni-los para facilitar a cultura e o comércio. Qualquer coisa que fique no caminho do sucesso comercial deveria ser explodida -- eu não consigo pensar num resumo melhor para as afirmações obscenas de Peikoff sobre a conveniência de invadir o Iraque.
Eu concordo que a posição de Peikoff é horrorosa -- e que Rand, estivesse ela viva, poderia bem assumir a mesma posição. Mas não é a posição de todos os Randianos e, de maneira mais importante, não é uma posição que se segue logicamente da filosofia de Rand. Rand é uma egoísta, mas seu egoísmo está mais na tradição de Aristóteles do que de Hobbes: dada concepção de Rand do auto-interesse, simplesmente não é o caso de que "os homens não têm qualquer outra conexão além de apetites comuns, então o governo deve forçosamente uni-los". Admitidamente, como eu argumentei em meu livro Reason and Value: Aristotle versus Rand, ao tentar articular os fundamentos filosóficos de sua visão ética, Rand cometeu o erro de cair novamente em considerações de estilo hobbesiano. Mas essa visão ética em si é tão não-hobbesiana quanto qualquer coisa poderia ser: o heroico indivíduo segue não seu apetites, mas sua razão, e lida cooperativamente com os outros não como uma estratégia pragmática, mas porque se comportar de uma maneira predatória ou parasita seria ignóbil e estaria abaixo de sua dignidade.
Embora eu concorde com muitas posições libertárias, eu me acomodei (por enquanto!) entre os paleoconservadores do movimento sulista. Os direitos individuais são, de fato, uma coisa boa, mas são o desdobramento de uma cultura particular, não o manifesto brilhante de alguém. Se a cultura for obliterada, as interações compartilhadas de seus membros e o conjunto relacionado de comportamentos esperados de um em relação ao outro a que nos referimos como direitos desaparecerão também.
É uma coisa dizer que o respeito por direitos depende de um contexto cultural. Eu certamente concordo com isso. (E assim, claro, o fazia Rand -- embora os valores culturais que ela pensava serem necessários para esse fim fossem um tanto diferentes daqueles do paleoconservadorismo sulista, e aqueles que eu consideraria como necessários são diferentes de ambos.) Mas os direitos em si dependem de um contexto cultural? Isso soa como relativismo, uma posição com a qual um comprometimento com os direitos não pode, suspeito eu, coexistir por muito tempo.
Então, conforme os EUA se transforma em um regime multicultural (isto é, anticultural), nossos direitos tradicionais estão também sendo eliminados.
Eu tendo a pensar que a liberdade é o produto do multiculturalismo e não pode sobreviver por muito tempo sem ele. O multiculturalismo é para o mercado de ideias o que a concorrência é para o mercado de bens.
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