O anarquismo enquanto um programa progressivo de pesquisa em economia política
por Peter J. Boettke
A teoria econômica, desde seu primeiro tratamento sistêmico em Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações de Adam Smith, tem claramente enfatizado os benefícios mútuos do comércio voluntário. Ao se especializar na produção e oferecer os bens e serviços para troca com outros, tanto os indivíduos quanto a sociedade ficarão em melhor situação. A fonte da riqueza não são os recursos naturais que jazem na terra ou as conquistas de terras estrangeiras, mas uma expansiva divisão do trabalho guiada pela troca voluntária. Smith havia estabelecido uma presunção em relação ao voluntarismo na interação humana em bases consequencialistas. A liberdade individual não era apenas correta de uma perspectiva moral, mas produziria maiores benefícios sociais também. No entanto, desde o princípio da economia se argumentou que estes benefícios da troca voluntária só poderiam ser realizados se a presunção em relação ao voluntarismo fosse suspensa a fim de criar as instituições governamentais necessárias para fornecer o framework dentro do qual a troca voluntária pode ser realizada.
Precisamente quanto a presunção em relação ao voluntarismo precisaria ser suspensa a fim de fornecer o framework para a troca voluntária tem sido uma das questões mais contestadas na economia desde o final do século XIX. A teoria dos bens públicos, do monopólio e das falhas de mercado todas contribuíram para expandir a aceitação da coerção e para qualificar a presunção em relação ao voluntarismo entre os economistas do mainstream. É importante lembrar que cada um desses argumentos para qualificar a presunção suscitou contra-argumentos por parte de economistas que demonstraram que os chamados bens públicos podem, na verdade, ser fornecidos de forma privada, que o monopólio não é uma consequência natural da troca voluntária, mas o resultado da intervenção governamental e que as falha de mercado são, elas mesmas, na raiz, causadas pelas falhas legais e não a consequência da troca irrestrita. Embora a linha dominante de pesquisa tenha pressionado contra a presunção de voluntarismo, uma outra linha de pesquisa sugere que a presunção deveria ser defendida mais consistentemente se se quiser atingir uma ordem social pacífica e próspera.
É esta linha alternativa de pesquisa que eu quero enfatizar em meus comentários aqui. Como explicarei, minha ênfase será no que eu chamarei de 'anarquismo analítico positivo' e no potencial evolutivo destas ideias enquanto um programa progressivo de pesquisa em economia política no cenário contemporâneo da ciência social.
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