A Esquerda Libertária
por Uriel Alexis
Em essência, a proposta da esquerda libertária é que a causa da igualdade social não está dissociada da causa das liberdades individuais. Há níveis de radicalismo nessa associação, desde uma incompatibilidade mínima a ser resolvida de forma pragmática através de regulamentações (os liberais americanos modernos), passando por uma identificação mínima em que liberdade e igualdade são compatíveis, desde que não sejam extremadas, até uma identificação total, onde liberdade e igualdade são indistiguível uma da outra. O texto do Valdenor é uma boa introdução, quanto a esse espectro. Eu, particularmente, defendo que a única igualdade social possível é idêntica e indistinguível da garantia de direitos individuais de propriedade - ou seja, sou um dos radicais.
A partir disso, o tema da economia de mercado enquanto ferramenta para a melhoria das condições de vida, especialmente das pessoas mais desfavorecidas, obviamente se sugere. Essa é a posição mais geral entre os que se identificam como BHLs, anarquistas de mercado, left-libertarians, mutualistas ou anarquistas individualistas. Seu argumento central é que, na medida em que as riquezas produzidas pelas pessoas não seja sugada através de regulamentações, impostos e outras intervenções estatais na economia de mercado, as rendas tendem a se equalizar e as pessoas podem viver com maior qualidade de vida e de forma mais autônoma. Há pelo menos uma ala, das cinco identificadas pelo Valdenor, que não crê que isso seja sequer possível, a saber, os anarquistas comunistas e demais coletivistas na tradição de Kroptkin e Bakunin. Esta identifica os processos de extração de riqueza com a propriedade individual dos meios de produção, e visa organizações comunitárias independentes para organizar a produção sob bases mais justas, sem propriedade privada. Já escrevi anteriormente sobre como tais posturas aparentemente antitéticas podem se auxiliar, rumo a uma maior autonomia. Apesar das diferenças, a análise do estado enquanto um mecanismo criador de desigualdade (ao invés de equalizador) também é ponto pacífico dentro da esquerda libertária.
Como obviamente nossa sociedade se propagandeia como tendo uma economia de mercado, ou capitalista, e, obviamente, o arranjo atual não é nem de longe igualitário, aqueles que assumem uma postura pró-propriedade fazem uma distinção entre capitalismo (o arranjo atual, de privilégios legais e subsídios diretos e indiretos concedidos a grandes empresários pelo estado) e a economia de mercado em si (os arranjos puramente voluntários - isto é, consensuais - entre indivíduos, através de contratos). O que a esquerda libertária entende como ferramenta de melhoria das condições de vida e de equalização é este último, que também é visto como uma ferramenta contra os interesses centralizadores e dominantes do primeiro (ou seja, um livre mercado anti-capitalista).
Dentro desse paradigma, empreende-se uma análise histórica e social do surgimento e da manutenção do capitalismo (sempre necessariamente capitalismo de estado) como uma empreitada violenta contra as pessoas. A hierarquia social resultante desse arranjo (embora não necessariamente toda e qualquer hierarquia) é vista como inerentemente injusta, dentro de um sistema moral que vê o consentimento como único legitimador possível. Outros temas também se inserem nessa análise sistemática, em especial a relação de outros sistemas de opressão (racismo, lgbtfobia, patriarcado, xenofobia, etc.) com o estado e o capitalismo.
As possibilidades tecnológicas de descentralização do poder (o que cria um mecanismo de mercado para o próprio poder político) são também temas que ganham proeminência, abrindo uma relação com outras filosofias políticas contemporâneas como o aceleracionismo e o autonomismo. Uma preferência por modos de vida de menor escala (entendidos como mais autônomos e, portanto, menos dependentes da estrutura do estado nacional) abrem relações com as críticas à civilização ocidental (e talvez à própria civilização enquanto modo de vida).
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