Socialismo: O Que É
Benjamin R. Tucker (1884)
"Você gosta da palavra
Socialismo?" disse-me uma senhora outro dia; "eu temo que não; de
alguma forma, eu me encolho quando a ouço. Ela está associada com tanta coisa
que é ruim! Devemos mantê-la?"
A
senhora que me fez essa pergunta é uma sincera Anarquista, uma firme amiga da
Liberdade e - é quase supérfluo adicionar - altamente inteligente. Suas
palavras exprimem o sentimento de muitos. Mas, afinal, é apenas um sentimento e
não resistirá ao teste do pensamento. "Sim", eu respondi, "é uma
palavra gloriosa, muito abusada, violentamente distorcida, estupidamente mal
compreendida, mas que expressa melhor do que qualquer outra o propósito do
progresso político e econômico, a meta da Revolução neste século, o
reconhecimento da grande verdade de que a Liberdade e a Igualdade, através da
lei da Solidariedade, farão com que o bem-estar de cada um contribua com o
bem-estar de todos. Uma palavra tão boa não pode ser poupada, não deve ser
sacrificada, não será roubada".
Como
ela pode ser salva? Apenas ao erguê-la para fora da confusão que a obscurece,
de modo que todos possam vê-la de maneira clara e definida e o que ela
fundamentalmente significa. Alguns escritores fazem o Socialismo incluir todos
os esforços para se melhorar as condições sociais. Proudhon tem a reputação de
ter dito algo do tipo. Como quer que seja, a definição parece ampla demais.
Etimologicamente, não é injustificável, mas, derivativamente, a palavra tem um
significado mais técnico e definido.
Hoje
(perdão pelo paradoxo!) a sociedade é fundamentalmente antissocial. Todo o
chamado tecido social repousa sobre privilégio e poder e é desordenado e
retorcido em todas as direções pelas desigualdades que necessariamente resultam
disso. O bem-estar de cada um, em vez de contribuir com o de todos, como
naturalmente deveria e iria, quase invariavelmente diminui o de todos. A
riqueza é tornada, por meio do privilégio legal, um anzol com o qual furtar dos
bolsos do trabalho. Todo homem que fica rico, assim, torna seu vizinho pobre.
Quanto melhor se está, tanto pior o resto está. Como Ruskin diz, "todo
grão de Incremento calculado para o rico é equilibrado por seu equivalente
matemático de Decremento para o pobre". O Déficit do Trabalhador é precisamente
igual ao Éficit do Capitalista.
Ora,
o Socialismo quer mudar tudo isso. O Socialismo diz que o que é carne para um
homem não deve mais ser veneno para o outro; que nenhum homem deve ser capaz de
adicionar às suas riquezas, exceto pelo trabalho; que, ao adicionar às suas
riquezas apenas pelo trabalho, nenhum homem torna outro homem mais pobre; que,
pelo contrário, todo homem, adicionando dessa maneira às suas riquezas, torna
todo outro homem mais rico; que o aumento e a concentração de riqueza através
do trabalho tendem a aumentar, baratear e variar a produção; que todo aumento
de capital nas mãos do trabalhador tende, na ausência do monopólio legal, a
colocar mais produtos, produtos melhores, produtos mais baratos, e uma grande
variedade de produtos ao alcance de todo homem que trabalha; e que este fato
significa o aperfeiçoamento físico, mental e moral da humanidade e a efetivação
da fraternidade humana. Isso não é glorioso? Uma palavra que significa tudo
isso deveria ser jogada de lado simplesmente porque alguns tentaram casá-la com
a autoridade? De forma nenhuma. O homem que concorda com isso, o que quer que
ele pense de si mesmo, do que quer que ele possa se chamar, não importa o quão
amargamente ele possa atacar a coisa que ele confunde com o Socialismo, é ele
mesmo um Socialista; e o homem que concorda com o seu oposto e age pelo seu
oposto, não importa o quão benevolente ele possa ser, não importa o quão devoto
ele possa ser, qualquer que seja sua posição na sociedade, qualquer que seja
sua posição na Igreja, qualquer que seja sua posição no Estado, não é um
Socialista, mas um Ladrão. Pois existem, no fundo, apenas duas classes - os
Socialistas e os Ladrões. O Socialismo, na prática, é a guerra contra a usura
em todas as suas formas, o grande Movimento Antirroubo do século XIX; e os
Socialistas são as únicas pessoas a quem os pregadores da moralidade não têm
nenhum direito ou motivo para citar o oitavo mandamento, "Não roubarás!”.
Esse mandamento é a bandeira do Socialismo. Apenas não como um mandamento, mas
como uma lei da natureza. O Socialismo não ordena; ele profetiza. Ele não diz:
"Não roubarás!". Ele diz: "Quando todos os homens tiverem
Liberdade, tu não roubarás".
Por
quê, então, minha senhora questionadora se encolhe quando ela ouve a palavra Socialismo? Eu lhe direi. Porque um
grande número de pessoas, que vê os males da usura e está desejoso de
destruí-los, tolamente imaginam que podem fazê-lo através da autoridade e, de
acordo, estão tentando abolir o privilégio centralizando toda a produção e a atividade
no Estado, para a destruição da concorrência e de suas bênçãos, para a degradação
do indivíduo e para a putrefação da Sociedade. Elas são todas pessoas
bem-intencionadas, mas equivocadas, e seus esforços estão fadados a se provarem
abortivos. Sua influência é perniciosa principalmente nisso: que um grande
número de outras pessoas, que ainda não viram os males da usura e não sabem que
a Liberdade os destruirá, mas que, não obstante, sinceramente acreditam na
Liberdade pela própria Liberdade, são levadas a confundir esse esforço para
tornar o Estado o todo e o fim da sociedade com todo o Socialismo e com o único
Socialismo e, corretamente horrorizadas por isso, o submetem, como tal, ao
devido escárnio da humanidade. Mas as críticas muito razoáveis e justas dos
individualistas dessa estirpe ao Socialismo de Estado, quando analisadas,
descobre-se que são direcionadas não ao Socialismo, mas ao Estado. Até aí, a
Liberdade está com eles. Mas a Liberdade insiste no Socialismo, não obstante -
no verdadeiro Socialismo, o Socialismo Anarquista: a predominância sobre a
terra da Liberdade, da Igualdade e da Solidariedade. Disso, a minha senhora
questionadora nunca se encolherá.
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