Exércitos que se Sobrepõem
Benjamin R. Tucker (1890)
Ultimamente, o Twentieth Century tem feito um bom tanto a caminho de uma
definição. Ora, definição é um negócio bastante particular e me parece que não
é sempre desempenhado com o devido cuidado no escritório do Twentieth Century.
Tome isso, por exemplo:
Um Socialista é alguém que acredita que cada indústria deveria ser coordenada
pelo benefício mútuo de todos os envolvidos, sob um governo, através da força
física.
É verdade que
escritores de reputação já deram definições de Socialismo que não diferem em
nada essencial da anterior — entre outros, o General Walker. Mas foi
elaboradamente provado nessas colunas que o General Walker está absolutamente
perdido quando ele fala seja sobre o Socialismo ou sobre o Anarquismo. De fato,
essa definição é fundamentalmente falha e define corretamente apenas o
Socialismo de Estado.
Uma definição análoga
em uma outra esfera seria esta: A Religião é a crença na Messianidade de Jesus.
Supondo que esta seja uma definição correta da religião cristã, ainda assim ela
é manifestamente incorreta enquanto definição da religião em si. O fato de que
o cristianismo ofuscou todas as outras formas de religião nesta parte do mundo
não lhe dá nenhum direito a um monopólio sobre a ideia religiosa. Similarmente,
o fato de que o Socialismo de Estado durante as últimas uma ou duas décadas
ofuscou todas as outras formas de Socialismo não lhe dá nenhum direito a um
monopólio da ideia Socialista.
O Socialismo, como tal,
não implica nem em liberdade nem em autoridade. A palavra em si não implica em
nada mais do que um relacionamento harmonioso. Na verdade, ela é um termo tão
amplo que é de difícil definição. Eu certamente não reivindico nenhuma
autoridade ou competência especial na questão. Eu simplesmente mantenho que a
palavra Socialismo, tendo sido aplicada por anos, por uso comum e
consentimento, enquanto termo genérico para várias escolas de pensamento e
opinião, aqueles que tentam defini-la são obrigados a buscar o elemento comum
de todas essas escolas e fazê-la significar isso, e não têm nada que fazê-la
representar a natureza específica de nenhuma delas. A definição do Twentieth Century não resistirá a este teste de maneira alguma.
Talvez aqui esteja uma
que o satisfaça: O Socialismo é a crença de que o progresso deve principalmente
se efetuado agindo-se sobre o homem através de seu ambiente, em vez de através
do homem sobre seu ambiente.
Imagino que isso será
criticado como geral demais e estou inclinado a aceitar a crítica.
Manifestamente, ela inclui todos que têm qualquer direito a serem chamados de
Socialistas, mas possivelmente não exclui todos que não têm esse direito.
Vamos limitá-la um
pouco: O Socialismo é a crença de que o próximo passo importando no progresso é
uma mudança no ambiente do homem, de um caráter econômico, que deverá incluir a
abolição de todo privilégio através do qual o detentor de riqueza adquire um
poder antissocial de extorquir tributo.
Eu não duvido que essa
definição possa ser muito melhorada, e sugestões que busquem esse fim serão
interessantes; mas ela é pelo menos uma tentativa de cobrir todas as formas de
protesto contra o sistema econômico usurário existente. Eu sempre me considerei
um membro do grande corpo de Socialistas e me oponho a ser lido ou definido
para fora dele pelo General Walker, pelo Sr. Pentecost ou por qualquer outra pessoa,
simplesmente porque não sou um seguidor de Karl Marx.
Tome agora uma outra
definição do Twentieth Century — aquela do Anarquismo. Não tenho o número do
jornal no qual ela foi dada e não posso citá-la exatamente. Mas certamente fez
da crença na cooperação uma parte essencial do Anarquismo. Isso é tão errôneo
quanto a definição de Socialismo. Cooperação não é mais algo essencial do
Anarquismo do que a força é do Socialismo. O fato de que a maioria dos
Anarquistas acredita na cooperação não é o que os torna Anarquistas, assim como
fato de que a maioria dos Socialistas acredita na força não é o que os torna
Socialistas. O Socialismo não é nem a favor nem contra a liberdade; o
Anarquismo é a favor da liberdade e nem a favor nem contra nada mais. A Anarquia
é a mãe da cooperação — sim, assim como a liberdade é a mãe da ordem; mas,
enquanto questão de definição, a liberdade não é ordem, nem o Anarquismo é
cooperação.
Eu defino o Anarquismo
como a crença na maior quantidade de liberdade compatível com a igualdade de
liberdade; ou, em outras palavras, como a crença em toda liberdade, exceto a
liberdade de invadir.
Será observado que, de
acordo com as definições da Twentieth Century, o Socialismo exclui os Anarquistas, ao passo
que, de acordo com as definições da Liberty, um Socialista
pode ou não ser um Anarquista, e um Anarquista pode ou não ser um Socialista.
Relaxando a exatidão científica, pode-se dizer, breve e amplamente, que o
Socialismo é uma batalha contra a usura e que o Anarquismo é uma batalha contra
a autoridade. Os dois exércitos — Socialismo e Anarquismo — não são nem
coextensivos nem exclusivos; mas se sobrepõem. A ala direita de um é a ala
esquerda do outro. A virtude e a superioridade do Socialista Anarquista — ou do
Anarquista Socialista, como ele pode prefere se chamar — jaz no fato de que ele
luta na ala que é comum a ambos. Claro, há um sentido no qual todo Anarquista
pode ser dito ser um Socialista virtualmente, na medida em que a usura repousa
sobre a autoridade e destruir a última é destruir a anterior. Mas dificilmente
parece apropriado dar o nome de Socialista àquele que o é inconscientemente,
sem desejar, intencionar ou saber disso.
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