sexta-feira, 27 de abril de 2018

Exércitos que se Sobrepõem

Exércitos que se Sobrepõem

Benjamin R. Tucker (1890)
Ultimamente, o Twentieth Century tem feito um bom tanto a caminho de uma definição. Ora, definição é um negócio bastante particular e me parece que não é sempre desempenhado com o devido cuidado no escritório do Twentieth Century.
            Tome isso, por exemplo: Um Socialista é alguém que acredita que cada indústria deveria ser coordenada pelo benefício mútuo de todos os envolvidos, sob um governo, através da força física.
            É verdade que escritores de reputação já deram definições de Socialismo que não diferem em nada essencial da anterior — entre outros, o General Walker. Mas foi elaboradamente provado nessas colunas que o General Walker está absolutamente perdido quando ele fala seja sobre o Socialismo ou sobre o Anarquismo. De fato, essa definição é fundamentalmente falha e define corretamente apenas o Socialismo de Estado.
            Uma definição análoga em uma outra esfera seria esta: A Religião é a crença na Messianidade de Jesus. Supondo que esta seja uma definição correta da religião cristã, ainda assim ela é manifestamente incorreta enquanto definição da religião em si. O fato de que o cristianismo ofuscou todas as outras formas de religião nesta parte do mundo não lhe dá nenhum direito a um monopólio sobre a ideia religiosa. Similarmente, o fato de que o Socialismo de Estado durante as últimas uma ou duas décadas ofuscou todas as outras formas de Socialismo não lhe dá nenhum direito a um monopólio da ideia Socialista.
            O Socialismo, como tal, não implica nem em liberdade nem em autoridade. A palavra em si não implica em nada mais do que um relacionamento harmonioso. Na verdade, ela é um termo tão amplo que é de difícil definição. Eu certamente não reivindico nenhuma autoridade ou competência especial na questão. Eu simplesmente mantenho que a palavra Socialismo, tendo sido aplicada por anos, por uso comum e consentimento, enquanto termo genérico para várias escolas de pensamento e opinião, aqueles que tentam defini-la são obrigados a buscar o elemento comum de todas essas escolas e fazê-la significar isso, e não têm nada que fazê-la representar a natureza específica de nenhuma delas. A definição do Twentieth Century não resistirá a este teste de maneira alguma.
            Talvez aqui esteja uma que o satisfaça: O Socialismo é a crença de que o progresso deve principalmente se efetuado agindo-se sobre o homem através de seu ambiente, em vez de através do homem sobre seu ambiente.
            Imagino que isso será criticado como geral demais e estou inclinado a aceitar a crítica. Manifestamente, ela inclui todos que têm qualquer direito a serem chamados de Socialistas, mas possivelmente não exclui todos que não têm esse direito.
            Vamos limitá-la um pouco: O Socialismo é a crença de que o próximo passo importando no progresso é uma mudança no ambiente do homem, de um caráter econômico, que deverá incluir a abolição de todo privilégio através do qual o detentor de riqueza adquire um poder antissocial de extorquir tributo.
            Eu não duvido que essa definição possa ser muito melhorada, e sugestões que busquem esse fim serão interessantes; mas ela é pelo menos uma tentativa de cobrir todas as formas de protesto contra o sistema econômico usurário existente. Eu sempre me considerei um membro do grande corpo de Socialistas e me oponho a ser lido ou definido para fora dele pelo General Walker, pelo Sr. Pentecost ou por qualquer outra pessoa, simplesmente porque não sou um seguidor de Karl Marx.
            Tome agora uma outra definição do Twentieth Century — aquela do Anarquismo. Não tenho o número do jornal no qual ela foi dada e não posso citá-la exatamente. Mas certamente fez da crença na cooperação uma parte essencial do Anarquismo. Isso é tão errôneo quanto a definição de Socialismo. Cooperação não é mais algo essencial do Anarquismo do que a força é do Socialismo. O fato de que a maioria dos Anarquistas acredita na cooperação não é o que os torna Anarquistas, assim como fato de que a maioria dos Socialistas acredita na força não é o que os torna Socialistas. O Socialismo não é nem a favor nem contra a liberdade; o Anarquismo é a favor da liberdade e nem a favor nem contra nada mais. A Anarquia é a mãe da cooperação — sim, assim como a liberdade é a mãe da ordem; mas, enquanto questão de definição, a liberdade não é ordem, nem o Anarquismo é cooperação.
            Eu defino o Anarquismo como a crença na maior quantidade de liberdade compatível com a igualdade de liberdade; ou, em outras palavras, como a crença em toda liberdade, exceto a liberdade de invadir.
            Será observado que, de acordo com as definições da Twentieth Century, o Socialismo exclui os Anarquistas, ao passo que, de acordo com as definições da Liberty, um Socialista pode ou não ser um Anarquista, e um Anarquista pode ou não ser um Socialista. Relaxando a exatidão científica, pode-se dizer, breve e amplamente, que o Socialismo é uma batalha contra a usura e que o Anarquismo é uma batalha contra a autoridade. Os dois exércitos — Socialismo e Anarquismo — não são nem coextensivos nem exclusivos; mas se sobrepõem. A ala direita de um é a ala esquerda do outro. A virtude e a superioridade do Socialista Anarquista — ou do Anarquista Socialista, como ele pode prefere se chamar — jaz no fato de que ele luta na ala que é comum a ambos. Claro, há um sentido no qual todo Anarquista pode ser dito ser um Socialista virtualmente, na medida em que a usura repousa sobre a autoridade e destruir a última é destruir a anterior. Mas dificilmente parece apropriado dar o nome de Socialista àquele que o é inconscientemente, sem desejar, intencionar ou saber disso.

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